Vale a pena pedir sempre fatura com NIF?
Na minha opinião, claro que sim! Tem sido uma das minhas “guerras” desde 2013. Claro que é uma opinião discutível, mas só na base dos princípios. Financeiramente é uma escolha óbvia.
Como já expliquei várias vezes, por pedir fatura com NIF de tudo (e a minha mulher) juntos recebemos todos os anos cerca de 200 euros “a mais” de reembolso de IRS.
Verifico também que há milhares de portugueses que continuam a CONFUNDIR deduções. Acham que como já atingiram os 250 euros de deduções das Despesas Gerais cada um do casal, já não vale a pena pedir mais faturas com NIF do que quer que seja. Pela milésima vez: Estes 250 euros de que vos falo repetidamente são OUTROS 250 euros para além desses 500 euros que o casal atinge rapidamente num mês ou dois. No total estamos a falar de um valor até 750 euros em deduções no IRS.
E já agora aproveito para responder a uma pergunta recorrente: Depois dos dois do casal atingirem os 250 euros cada um, NÃO VALE A PENA pedir mais faturas no nome dos filhos com esse objetivo. Não acrescentam mais 250 euros por cada filho. Peça sim de educação e saúde para os filhos e o máximo possível. Isso sim, vale a pena porque são as deduções mais relevantes no seu IRS. É o que o faz receber MESMO mais dinheiro. Mas despesas de supermercado não adianta pedir em nome dos filhos.
As contas das faturas com NIF
Mas como continuo a verificar que é uma questão mal resolvida vou voltar tentar explicar, desta vez com um exemplo prático e real.
Durante um dia de férias, pedi (como habitualmente) fatura de tudo com NIF. Especificamente de cafés e restaurantes. E faço as contas no final do artigo a quanto isso representa no IRS do ano que vem.
Em primeiro lugar, é importante que perceba que não estamos a falar de nenhuma fortuna. Portanto, se não se quiser dar a este “trabalho” não é por isso que vai ficar mais pobre. Em todo o caso digo-lhe apenas que no caso da minha família fazer isto significa as Finanças “oferecerem-nos” praticamente o seguro de um dos carros ou quase uma máquina de lavar ou metade do nosso IMI. Portanto avalie se estes valores são relevantes para si ou não. Costumo dizer que as faturas com NIF em pastelarias e cafés já mais que pagaram o painel solar que tenho no telhado.
Em segundo lugar, quero deixar claro que isto não me dá trabalho nenhum. A única coisa que faço é entregar o cartão com o meu NIF quando faço uma compra (mesmo que seja um café e um pastel de nata) e mais nada. SÓ ISSO.
Como faço a conta?
Muitas pessoas sabem que têm vantagens mas não sabem como funciona esta dedução. Basicamente funciona assim: Sempre que for a uma pastelaria, restaurante, cabeleireiro, manicure, pedicure, massagista, SPA, hotel, oficina, veterinário ou pagar o passe social e PEDIR FATURA COM NIF, quando entregar o IRS o Estado devolve-lhe 15% de todo o IVA que pagou nessas faturas. Como é que eu sei qual é o valor?
Veja as fotos abaixo. Rodeei a vermelho o local onde está o valor exato do IVA que pagou nessa fatura. Relembro-o de que quer peça fatura com NIF, quer não, se a fatura for passada, esse IVA vai para o Estado. Se tiver o seu NIF, o Estado devolve-lhe os tais 15%. Se não pediu NIF, pagou exatamente o mesmo e o Estado não lhe devolve nada.
Se não pedir fatura, paga novamente o mesmo e se o comerciante fugir aos impostos ele fica com o IVA no bolso e não o entrega ao Estado, logo quando o Estado se vir aflito com falta de dinheiro vai subir os SEUS (e os nossos) impostos porque precisa de mais dinheiro porque alguém recebeu o SEU dinheiro do IVA e não o entregou ao Estado. Espero ter sido claro com esta explicação. Isto não tem nada de política.
Estas faturas são de apenas um dia de férias. Pequenos-almoços, almoço, umas cervejas a meio da tarde, uns gelados e uns cafés. Em todos os casos está indicado na fatura quanto paguei de IVA.
Claro que o “segredo” não é pedir fatura com NIF só das despesas grandes. Em inúmeros casos, as pequenas despesas de um dia somadas são às vezes superiores à da despesa grande de um almoço ou jantar. E mesmo que não o seja, as pequenas despesas somadas à grande dão sempre um valor bem maior em seu benefício.
Mas e a privacidade?
Como podem ver nestes casos, vocês ficam a saber muito mais sobre os meus pequenos-almoços do que o Estado. Ele só sabe o valor que paguei e o respectivo IVA e onde foi. Não tem acesso ao detalhe.
Vocês podem perceber que comemos uma tarte de maçã, uma meia de leite e mais umas coisas, mas as Finanças não. No dia em que o Estado se preocupar com a tarte de maçã que eu como é porque o Estado está com problemas bem mais graves do que supomos. Muitas pessoas metem medo com o “Como é que explicam que gastam mais do que ganham?”. Pois, isso não sei. Se gastam mais do que ganham todos os meses têm de facto um problema, mas não é (só) com o Estado. Nunca defenderei quem foge ao fisco. Estas dicas são para pessoas honestas que cumprem as suas obrigações.
Em todo o caso, eu posso perfeitamente gastar mais do que ganho e o Estado não tem nada a ver com isso. Posso ter recebido uma herança. Posso ter investido na bolsa e ter ganho bastante dinheiro, posso estar a usar as minhas poupanças. É verdade que a Autoridade tem sistemas de “alerta” para fazer inspeções mas acreditem que não é nas suas despesas com pastéis de nata. Seja como for, se tem telhados de vidro, compreendo que não queira dar bandeira. É justo. E se preza MESMO a sua privacidade, mesmo sendo honesto está mais do que no seu direito não pedir fatura com NIF.
As contas
Como expliquei no princípio, peguei em todas as faturas de restauração, pastelarias e cafés de um dia escolhido ao acaso e somei todo o IVA que paguei nas faturas com NIF. O resultado foi este:
Em conclusão, só neste dia entreguei ao Estado 8,57 € em IVA. De acordo com o Código do IRS, para o ano o Estado vai deduzir-nos 15% desse valor. Portanto dos 8,57 € que gastei neste dia, as Finanças vão devolver-me 1,28 €.
PFFF! Tanto trabalho por 1 euro e qualquer coisa? Certo. Mas não se esqueça de que é a multiplicar por 365 dias. E todos os dias são diferentes. Uns dias gasto mais, outros dias gasto menos, outros ainda não gasto nada. É o que for. Cada um sabe da sua vida. No nosso caso, dá cerca de 200 euros por ano na soma das minhas despesas com as da minha mulher. Nunca atingi o máximo dos 250 euros nesta dedução. Mas às vezes com duas gatas e veterinários e despesas grandes de oficina, cafés, restaurantes, hotéis e cabeleireiros esse valor fica próximo.
Isto só se aplica a quem retém IRS na fonte. Se não desconta IRS ou não tem nada sobre o qual deduzir, esta dica não se aplica, obviamente.
Porque é que me dou a este trabalho?
Porque, como expliquei, como peço fatura com NIF de tudo, nunca corro o risco de me esquecer. E é sempre tudo a somar, mesmo que sejam pequenas parcelas. Se só pedisse de grandes despesas, estaria a perder cerca de metade do que poderia receber.
Para exemplificar, é como se um empregado de mesa só aceitasse gorjetas acima de 2 euros. Ao desprezar todas as outras pequenas gorjetas estaria a prejudicar seriamente uma pequena fonte de rendimento. Pode não ser a principal fonte de receita, mas tudo o que vier a mais é bem-vindo. Pelo menos penso assim em termos puramente financeiros.
Espero que estes exemplos e contas o ajudem a perceber como esta dedução funciona. O que vai fazer com esta informação agora é consigo. Não estou aqui para convencer ninguém. Não ganho nem perco nada com esta minha “guerra”. Só ganho alguns pequenos ódios de estimação. Mas como acho que é útil para mim, partilho.
Fonte: CONTAS-POUPANÇA